Os Jardins Históricos dos Açores estão intimamente relacionados com a localização que o arquipélago ocupa no atlântico nordeste. A insularidade e a fragmentação territorial das nove parcelas insulares configuram uma inserção geográfica peculiar. Situados entre os 36º e os 39º de latitude norte e os 24º e 31º de longitude oeste, os Açores encontram-se à mesma posição da bacia mediterrânea, mas é no quadro biogeográfico da Macaronésia que se deve observar as suas especificidades naturais, históricas e económicas. Sendo o arquipélago mais a norte e o mais afastado das costas continentais, face à Madeira, Canárias e Cabo verde, os Açores possuem variantes climáticas e ecológicas singulares.
O modelo do povoamento das ilhas açorianas, encetado a partir do século XV, reflete o posicionamento nevrálgico do arquipélago nas rotas de torna-viagem que ligaram mares e continentes distantes dos antigos impérios ibéricos. Favorecido pelo clima temperado marítimo (mesotérmico húmido), com temperaturas médias anuais em torno dos 17° C e precipitações superiores a 1000 mm e, ainda, pela presença de solos ácidos e muito férteis originados por materiais vulcânicos, os Açores tiveram um papel fundamental no processo de aclimatização florística de espécies oriundas de África, América do sul e do sudeste asiático.
É neste contexto edafoclimático e na sequência da moda do colecionismo botânico, difundida pela Europa a partir da segunda metade de setecentos, que vamos encontrar os luxuriantes jardins que circundam a cidade de Ponta Delgada e o Vale das Furnas, na ilha de São Miguel, o jardim público de Angra e da Horta e as mais recentes Reservas Florestais de Recreio.
Pela mão de um punhado de gentlemen farmers micaelenses e de alguns arquitectos, head gardeners e plantsmen ingleses, franceses e belgas, milhares de plantas ornamentais dos cinco continentes vieram povoar os jardins açorianos ao longo da segunda metade do século XIX, operando uma verdadeira transmutação da paisagem insular.